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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Confissões

A história que ainda agora começou, conta-se pela boca de duas pessoas que se encontraram no acaso… Por acaso, reconheço o meu reflexo e procuro reflectir quem sou em ti. Os teus cabelos enlaçam-me a atenção e são apenas o inicio de um caminho que ainda percorro, a cada olhar sinto-me completamente vulnerável, exposto a ti, tu, que em mim, só serás conjugada na primeira pessoa, assim faz sentido, justifica o Mundo.
Hoje vejo as folhas do Outono no chão, cores que nostalgicamente me fazem recordar um menino brincadeiras… sinto que a sua fisionomia não me é estranha, observo-o e sei que ele reparou em mim, faz-me lembrar alguém, quem? Tem arte o miúdo, joga à bola com um sorriso aberto nos lábios, corre como se não houvesse nada mais importante, e naquele momento, é verdade, não havia. A bola é feliz nos pés daquelas crianças, salta, rebola e rola, de pé em pé passa o tempo e a ausência de se preocuparem com a realidade dos outros, esta era só minha… Chuto, finto, caio e tranco a perna a um colega que se levanta e marca falta, com medo do golo refilo com o jogador arbitro, não adianta, é penalti.
Afasto-me dali por instantes e um casal de jovens namorados passa por mim, nem repararam que estava ali, trocam beijos e carícias num bailado de descoberta mágico que os lança na aventura dos sentidos, exploram o seu próprio corpo e a sexualidade. Para eles tudo é perfeito e o resto, inexistente. Ameaça chover e vejo-os a abrigarem-se num canto menos exposto e protegido. Saio dali a passo largo, encosto-me numa paragem de autocarro.
A chuva cai sem piedade, os pingos gelados fazem-me tremer, subitamente, como se viesse em missão divina, surge uma voz, num tom suave e doce, oferece um espacinho debaixo do seu guarda-chuva, aceito de bom grado e junto-me bem arrumado ao seu lado esquerdo, já não tremo de frio. A cada gesto e palavra o corpo responde tremido pela timidez. Quando me diz o seu nome o meu coração dispara… cada uma daquelas letras também é minha, excepto a última que é própria do género e da sua condição feminina, ri-se com uma luz que me aquece eternamente a alma. O toque não engana, é mágico, desenha um arco-íris fantástico, cheio de cores jamais vistas, o sol é só nosso. Levitamos enfeitiçados pela certeza de nos termos finalmente encontrado, surge o primeiro beijo, sobressaltado pela surpresa de um momento bem aproveitado, a reacção de espanto foi enfatizada pela sintonia do sabor, pelo roçar aveludado de dois corpos que anseiam revelar-se na homenagem do desejo ao amor… Fomos, somos e seremos para sempre apaixonados, como pela primeira vez eternamente repetida, é assim que te conheço e que te amo.

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