...barulho incomodativo que se ouve ao fundo do corredor, parece que se aproxima cada vez mais, como um cavalo relinchando à medida que, a trote, chega mais perto e mais perto, apetece-me fugir, enfiar a cabeça de baixo dos lençóis e partir para uma aventura de olhos fechados, mas, infelizmente, está na hora, pois é, o despertador não se cala e a obrigação de um dia cheio de trabalho agarra-me na perna esquerda depois na direita, coloca os pés no chão, puxa os braços cansados que a muito custo arrastam o tronco tipo carcaça velha, os olhos permanecem fechados colados pela remela matinal de um dorminhoco armado em preguiçoso. Em câmara lenta, calço os chinelos (ao contrário) e caminho para o WC...HMMMMMMMMM...espectáculo, mas que bom...poucas coisas (é certo que as há e incomparávelmente mais apetecíveis)serão tão satisfatórias como um belo esvaziar de bexiga pela manhã, logo seguido por um roncar de alvorada do tubo de escape da máquina, há coisas que todos fazemos, não vale a pena negar, nem esconder-se atrás de falsos moralismos ou pregões de "Sumissimos" das regras impostas por uma sociedade Castelo de Cartas.
Depois de um merecido duche, onde afogo todas as esperanças de umas horas bem passadas a contar ovelhas (não gosto de carneiros), visto o fato especial dou um belo beijo na mulher e parto, a pé, para o apeadeiro. A Ténia de metal atrasa como sempre, mas até que se compreende, dado que a linha não permite altas velocidades...depois de entrar sento-me na ultima carruagem agarrado a um livro de bolso, este acto não se limita ao purismo de um apaixonado pela leitura,mas também à arte antiga de fintar o revisor. A viagem decorre sem sobressaltos nem conversas, pois essas são apenas alheias e filhas de anos de vizinhança de assento, chegado ao fim da linha deslizo entre cotovelos e suores channel, saio a caminho dos 800m que me separam da segunda residência...cheguei assim todos os dias.
