Os dedos pairam sobre as teclas como um abutre esfomeado completamente centrado na visão de um cadáver em putrefacção...mergulham a pique, caídos na tentação de mais um texto de meios significados.
Olho à minha volta e vejo...sou eu, procuro no espelho abro a boca ao máximo e espreito bem no fundo -Quem és tu? perguntaria eu se conseguisse tirar algum som daquela boca escandalosamente aberta. A resposta vem devagar e com um som oco de um arrotar satisfeito, o almoço correu bem. Engraçada a resposta, somos o que comemos, é bem verdade, desde pequenos que nos tornamos grandes à custa do que nos vão dando de comer. Mesmo na hipocrisia do mundo moderno e nas danças com todos, andamo-nos a comer indiscriminadamente, aquela promiscuidade ida dos tempos com pelos, à força da reprodução.
O mundo gira e o povo aplaude, todos os dias, há pessoas que morrem de fome, crimes hediondos cometidos em nome de nada, roubos descarados encobertos pelos donos do dinheiro, discursos cheios de brilhantismo e demagogia, até temos um presidente do mundo negro porque castanho é a sua cor, a ganancia e o amor pelo dinheiro poder...amor...que palavra...que tamanho significado pois a palavra cheia de letras pouco serve...Amor, por ti desvio o sentido amargo e derrotista do meu já demasiado longo devaneio....Amor, assim tão sorrateiramente apareces nas teclas do meu pensamento, processo de imediato um sorriso que me faz respirar o ar ainda puro que habita na nossa realidade...Amor, por ti espero sentado neste sofá, a minha vida neste pequeno instante tornou-se tão mais...tão melhor...Amor, assim poderíamos ser felizes, todos nós ao mesmo tempo, fosses tu o papel mágico que compra tudo o que não precisamos, mas de ti queremos e suspiramos...Amor, pois apenas e só pelo significado que tens para todos e cada um de nós, és indefinido para muitos e tens um rosto para outros quantos te amam também...Amor, és uma chuvada num dia abafado de verão, libertas aquele cheiro a terra molhada que me faz sentir uno com a natureza, que me transporta para um tempo em que o cheirinho a café acabado de fazer pela minha amada mãe me entrava pelas narinas e fazia querer continuar naquele momento o resto da minha vida...Amor és tu. Sabes quem e o que significas para mim.