Páginas

terça-feira, 19 de julho de 2011

De repente

Dei comigo a pensar nas pessoas que conheço ou conheci e que morreram. Estranho reparar na falta que já não me fazem, a ausência foi deixando de ser notada e as recordações cada vez menos recordadas.

A minha primeira morte foi a de um avô, a única coisa que recordo são histórias contadas por outros, era famoso por uma característica física que o destacava, teria o maior pénis da freguesia (não foi geneticamente transmitido para gerações posteriores), não sei que tipo de assuntos seriam discutidos naquela era, mas sem dúvida que a pila do meu avô abriria telejornais. No dia em que foi levado para o hospital brincava alegremente como se nada fosse, a melhor forma de encarar a morte, algo natural que faz parte da vida.
O meu maior medo é de facto a saudade, deixar de ver alguém que amo, amigo, família, como ultrapassar a perda de alguém?
O vizinho Sr. António não é mais do que pequenos lampejos de recordação, um homem bom, já reformado, com uma vespa, estas que voltaram pela força da moda e da teoria da reciclagem, de quando em vez lembro-me dele.
Rato, um rapaz que conhecia como rival, ele gostava da minha namorada, mas até nem nos dava-mos mal, era um tipo porreiro mas com problemas relacionados com droga, infelizmente morreu cedo vítima dele mesmo e do mundo viciado que o matou, afogou-se quando pescava lampreia no rio Mondego.
O meu tio Narciso, foi o único amigo que tive num momento que mais marcou a minha vida, devo-lhe as visitas que me fez quando estava de cama doente como nunca espero voltar, parotidite seguida de duas orquites deram-me mais de seis meses de cama, no funeral lembrei-o como hoje em dia, com carinho.
Para além dos que partiram recordo, sobretudo os vivos, quem gostaria de ter perto de mim, infelizmente, por circunstâncias que nos são completamente alheias, somos afastados de quem gostamos, outras vezes por mero comodismo esquecemos de ligar, dar um olá…o tempo não pára e todos nós temos prazo de validade, quando damos conta já desapareceram inúmeras presenças habituais e que deixaram de ser encontradas por nós, gostaria de ser diferente, ter todos ao meu redor em contacto constante, um rodopio de beijos e abraços, amar principalmente os outros.

Admito que tenho muito medo da morte, não serve nenhum propósito, defendo-me como qualquer ser humano com dois dedos de testa, com a religião.