Todos nós recordamos através de determinado perfume, musica, paisagem… coisas que, como uma poderosa máquina do tempo, nos Teletransportam para a felicidade de um momento.
Fecho os olhos e sinto o cheiro a café, na varanda da casa dos meus pais, era uma tarde quente recentemente baptizada por uma chuvada de verão, os meus dez anos faziam-me jogar à bola sempre, em qualquer lado…
Reclama a minha mãe com a quantidade de buracos nas sapatilhas recém compradas na feira.
O último de sete irmãos, mais pequeno e mimado de todos, a diferença de idade para os mais velhos, lançou-me num corrupio de encarregados de educação, e naquele tempo tínhamos a famosa “estalomotivação” que raramente funcionava. Confesso que até me comportava razoavelmente bem, os terrores da minha geração não me influenciaram, na escola apenas fui expulso uma única vez e já no secundário por algo que nem fui eu que fiz…
Os meus pais passaram por bastantes dificuldades, com tanta boca esfomeada era raro o pão e a sardinha, recordo apenas as palavras dos mais velhos que descreviam uma existência pobre, marcada pela fome, roupa maltrapilha, sapatos rotos…
O meu pai trabalhava na construção civil, andava sempre por fora e só vinha a casa ao fim-de-semana cheio de saudades da minha mãe (os métodos contraceptivos na altura eram caros), perdiam-se na conversa e passado nove meses lá vinha mais um, fui o último porque finalmente acertaram.